Mãe espiã

A pior parte de ser mãe é ver seus filhos crescendo e te excluindo da vida deles. Não sei até onde isso seja normal ou não, saudável ou não, mas causa uma insegurança gigante em mim. Por um lado é ótimo olhar de longe e ver que eles resolvem conflitos, se socializam, aprendem e se resolvem, por outro é péssimo ver tudo isso quase como expectadora, imaginando mais que sabendo, deduzindo mais que vivendo junto.

Faz um tempo já que eu vejo as coisas acontecerem na vida do meu filho da arquibancada, com expectadora, raramente ele me pede conselhos ou me conta algo, raramente quer sair comigo e parece odiar que eu entre em determinadas partes da vida dele.

Dói. Especialmente porque por vários anos, eu era tudo na vida dele. Ele dependia de mim, literalmente para tudo! E eu era a ser soberana que sabia tudo que ele queria só olhando seu rostinho, suas expressões e seus desagrados, éramos quase uma mente única e eu sabia de todas as suas necessidades e até adivinhada seus pensamentos.

Hoje a realidade é outra, sonhei com o dia que ele seria mais independente, comemorei com ele cada ato de independencia, desde largar a chupeta até tirar seu primeiro dez numa prova. Insentivei-o a ser independente, tomar decisões, resolver seus conflitos sozinho. E parece que deu certo, ele realmente se resolve sozinho, se vira em muita coisa e cada dia precisa menos de mim. Às vezes parece que eu deixei de ser mãe, para ser uma mistura de caixa de banco e empregada domestica. E fico vendo, resignada, a vidinha do meu filho como expectadora, ávida por algum pedido da parte dele que me faça sentir ainda necessária.

É… Virei minha mãe, que faz tudo para agradar os filhos só para ter a oportunidade de estar um pouco mais perto deles, isso que eu detestava ver minha mãe fazendo, hoje entendo, faço o mesmo, agora entendo quando dizem que mãe é tudo igual.

 

Isso tudo me leva a assunto que eu queria escrever quando comecei a escrever tudo isso aí encima. Por me sentir excluída, expectadora, me sinto insegura também, sem saber se o que eu ensino a ele é ou não absorvido, sem saber se ele segue ou não o caminho do bem, sem saber se as companhias dele, um leque cada vez maior de amigos e amigas, são pessoas que vão acrescentar coisas legais ou vão levá-lo para um caminho ruim.

 

Com todas essas coisas pairando na minha mente, conversei com um amigo no MSN, perguntei a ele se daria para eu saber o que meu filho fala no MSN dele, se eu poderia gravar essas conversas e ver depois. Descobri que existem programas espiões que gravam tudo que acontece no micro, sem aparecer e ainda mandam as informações para seu e-mail, assim você pode saber tudo que acontece quando um usuário entra na sua maquina.

 

Comecei a fazer download de um programa desses e, enquanto o programa era baixado eu ia me sentindo muito mal. Eu estava prestes a invadir a vida do meu filho! Tudo bem, no meu coração, era por uma boa causa, para protegê-lo, para ajudá-lo caso ele estivesse fazendo algo que eu desaprovasse. Mas, pensava eu enquanto esperava a baixa do programa, será que ser mãe e amá-lo e querer protegê-lo me dá esse direito? Será que eu tenho o direito de espionar meu filho? Sentia-me mal e mal a cada porcentagem  mais que o programa baixava.

Meu filho tinha o direito à privacidade, tinha também o direito de viver sua vida, aprender com seus erros, se decepcionar, ser feliz, ser triste, dar cabeçada, aprender com tudo isso e ser melhor ou pior, mas ser o que ele escolhesse sem que eu me metesse nisso da forma como estava querendo me meter.

 

Existem outras maneiras de educar sem esse controle doentio (nos 80% do download eu já me sentia uma controladora doente) que eu estava tentando fazer com aquele programa espião.

Educar também é mostrar o certo, com exemplos, sendo exemplo, conversando, ensinando, falando das minhas próprias experiências e (acredito) rezando muito para que ele escute algo do que falamos, aprenda algo sozinho e tire suas próprias conclusões sobre a vida.

Educar também é se resignar a ver um pouco da vida dele como expectadora, lá na torcida, e cruzar os dedos para que ele tome as melhores decisões.

Educar não é fazer com que ele faça tudo que você ache certo, mas é dar-lhe ferramentas para que ele saiba escolher.

Educar também é dar apoio quando ele escolher errado, sem jogar na cara o tradicional “eu não disse?” E o “se tivesse me ouvido…”.

 

O download terminou, fiquei olhando a telinha que dizia que o programa ia ser instalado e bastava clicar no botão “prosseguir”.

 

Sentia-me a pior das criaturas.

 

Existiam outras maneiras de saber o que se passa com meu filho.

E um dia, exatamente como eu fiz com minha mãe, e ela com a mãe dela, ele vai parar de me excluir, e vai me deixar participar, vai me pedir conselhos e vai me ouvir me achando a mais sabias das mães.

 

Meu filho não precisa de espionagem, precisa de apoio e orientação.

 

Cliquei em desistir.

3 comentários

  1. É isso aí. Mas mãe tem certas regalias. Não confunda a relação mãe -filho como se duas pessoas quaisquer fossem…

  2. Muita matura a sua decisão e verdadeiro tudo o que escreveste aqui.Tb sou mãe… sei bem do que tratas, embora os meus ainda sejam pequenos e extremamente dependentes de mim.Vc escreve muito bem. Gosto muito!Em breve passo no seu blog, falou?

  3. bravo coraçao lindo adorei a tua decisao beijinhos deste amigo de paris e nao desesperes ele vai precisar de ti sempre como ja te disse tu escreves lindamente nao fui capaz dedeixar de ler e ainda confesso estava a espera de mais rssssssss

Deixe um comentário